sábado, 6 de fevereiro de 2010

Aids avança entre garotas com idades de 13 a 19 anos

A doença, que sempre afetou mais os homens, mudou de cara. Jovens com mais de 12 anos podem fazer teste de HIV sozinhos

Rio - Trinta anos depois do primeiro caso de Aids no Brasil, a epidemia mudou de cara entre os jovens com idades de 13 a 19 anos. Nesse grupo, as meninas já são 60% das pessoas contaminadas — o vírus sempre afetou mais homens do que mulheres no País em todas as faixas etárias. Ontem, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, lançou no Rio a Campanha de Prevenção a Aids no Carnaval e garantiu que adolescentes com mais de 12 anos podem fazer testes de diagnóstico de HIV mesmo sem a presença dos pais. 

“É um direito desse jovem, mesmo sem autorização da família, fazer a testagem. A questão central é a saúde”, disse o ministro. A campanha, que tem como slogan ‘Camisinha. Com amor, paixão ou só sexo mesmo. Use sempre’, tem como público-alvo as garotas e os rapazes gays com idades entre 13 e 19 anos. Na segunda fase, após o carnaval, jovens serão incentivados a fazer o teste.

Segundo o estudo do ministério, 64,8% das mulheres com idades entre 15 e 24 anos fizeram sexo no último ano, e 66% delas não usaram preservativos em todas as relações casuais. A confiança no parceiros faz com que 30% não usem o preservativo. 

“As mulheres têm dificuldades de negociar o uso do preservativo. Elas usam nas primeiras relações com um parceiro, mas depois acabam confiando e abrem mão da proteção, mesmo sem saber se o parceiro tem o vírus ou não”, diz Eduardo Barbosa, diretor adjunto do Departamento de DST e Aids do Ministério. “As relações hoje são mais passageiras e cada vez mais o início sexual é precoce”. 

A dificuldade de acesso e até mesmo o constrangimento de ser vista com um preservativo facilita a exposição das jovens. “ A sociedade é machista. Quando a garota tem preservativo, começam as brincadeiras maliciosas, pejorativas”, diz Eduardo, lembrando que os meninos se orgulham de ter preservativos na carteira. 

O medo de que os pais descubram o produto na bolsa também dificulta a proteção. “Se a família é mais rígida, mais religiosa, por exemplo, fica mais complicado para essa adolescente ter camisinha em casa e ter que se explicar”, diz Jane Portela, do Programa de Prevenção a DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde. A ingestão de álcool é outra preocupação. “A bebida altera os sentidos e é difícil ter a lucidez de usar camisinha”, diz Jane.

Autora do livro ‘Aids e Juventude: gênero, classe e raça’, Stella Taquete lembra uma característica dos adolescentes que aumenta o risco. “Eles não têm maturidade. Não acreditam que podem se contaminar”.
Rapazes gays também expostos 

O preconceito está fazendo com que os gays já sejam maioria entre os homens com Aids, na faixa entre 13 e 19 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, nessa idade a transmissão da doença já é 39% por sexo homossexual e 22%, heterossexual. Entre a população masculina em geral, 45% dos contaminados relatam que a transmissão ocorreu por sexo com mulheres. 

“Eles sofrem preconceito na escola e, muitas vezes, na família. Isso faz com que baixem a guarda na hora de se prevenir, o que os deixa mais vulneráveis ao HIV”, explica Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST/Aids do Ministério da Saúde.

O jovem A., 20 anos, soube que estava com Aids há dois anos. “Procurei meu ex-namorado, mas ele não quis falar sobre o assunto. Quando a gente começou a namorar, a gente usava camisinha, mas com o tempo a gente acaba confiando e abrindo mão uma vez ou outra”, diz ele. 

Ele diz que custou a acreditar no resultado do teste. “Afeta muito a autoestima quando a gente sabe. Contei aos meus pais, mas nem todos os amigos sabem”.

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