
Por força de três viagens e tarefas administrativas que se acumularam, este blog não foi atualizado nas últimas 2 semanas. Peço desculpas aos leitores pelo silêncio.
Retomo as atividades comentando reportagem publicada anteontem no jornal Folha de São Paulo sobre trabalho que compara o padrão de expressão gênica de células mesenquimais derivadas do sangue do cordão umbilical com células do próprio tecido que forma o cordão umbilical.
A chamada para a matéria, tanto no jornal impresso quanto na versão online , é o título desse post sem o ponto de interrogação, seguido de "afirma pesquisa da USP". No primeiro parágrafo da reportagem lê-se ainda: "isso porque as células-tronco do cordão servem para formar neurônios".
Assim que comecei a ler a reportagem, senti uma mistura de surpresa e empolgação, depois veio o desapontamento e por último a preocupação.
A simples possibilidade de demonstração da geração de neurônios a partir de células adultas não provenientes do cérebro, de células-tronco embrionárias ou de pluripotência induzida (iPS) seria um marco científico daqueles. Daí minha empolgação.
No começo dessa década alguns pesquisadores já haviam proposto que células-tronco derivadas do sangue poderiam se transformar em células extremamente especializadas como os neurônios. Entretanto, poucos anos mais tarde a maior parte da comunidade científica foi incapaz de reproduzir esses resultados .
O tema é controverso mas o conceito aceito atualmente é que células do sangue, inclusive as mesenquimais, podem apresentar marcadores comuns aos neurônios mas isso não significa que consigam fazer o que os neurônios fazem: formar sinapses, disparar potenciais de ação, participar de redes neurais no interior do cérebro.
Seria o equivalente que chamar de zebra um cavalo com listras como o da foto. Essa ótima comparação ouvi pela primeira vez do Professor Luiz Eugenio Mello, que publicou artigo científico demonstrando que células mesenquimais podem, em algumas situações, produzir proteínas de neurônios sem entretanto agirem como tal.
As células mesenquimais analisadas pela equipe do Professor da Unifesp foram retiradas da medula óssea de ratos. Seus resultados não excluem a possibilidade de que células mesenquimais extraídas do cordão umbilical humano sejam diferentes e possam eventualmente gerar neurônios.
A chamada para a matéria, tanto no jornal impresso quanto na versão online , é o título desse post sem o ponto de interrogação, seguido de "afirma pesquisa da USP". No primeiro parágrafo da reportagem lê-se ainda: "isso porque as células-tronco do cordão servem para formar neurônios".
Assim que comecei a ler a reportagem, senti uma mistura de surpresa e empolgação, depois veio o desapontamento e por último a preocupação.
A simples possibilidade de demonstração da geração de neurônios a partir de células adultas não provenientes do cérebro, de células-tronco embrionárias ou de pluripotência induzida (iPS) seria um marco científico daqueles. Daí minha empolgação.
No começo dessa década alguns pesquisadores já haviam proposto que células-tronco derivadas do sangue poderiam se transformar em células extremamente especializadas como os neurônios. Entretanto, poucos anos mais tarde a maior parte da comunidade científica foi incapaz de reproduzir esses resultados .
O tema é controverso mas o conceito aceito atualmente é que células do sangue, inclusive as mesenquimais, podem apresentar marcadores comuns aos neurônios mas isso não significa que consigam fazer o que os neurônios fazem: formar sinapses, disparar potenciais de ação, participar de redes neurais no interior do cérebro.
Seria o equivalente que chamar de zebra um cavalo com listras como o da foto. Essa ótima comparação ouvi pela primeira vez do Professor Luiz Eugenio Mello, que publicou artigo científico demonstrando que células mesenquimais podem, em algumas situações, produzir proteínas de neurônios sem entretanto agirem como tal.
As células mesenquimais analisadas pela equipe do Professor da Unifesp foram retiradas da medula óssea de ratos. Seus resultados não excluem a possibilidade de que células mesenquimais extraídas do cordão umbilical humano sejam diferentes e possam eventualmente gerar neurônios.
Por outro lado, o artigo sobre as células do cordão umbilical, apesar de bastante interessante, de ter passado pelo crivo da comunidade científica internacional e ter sido aceito para publicação em revista científica especializada não demonstrou o que afirma a manchete da reportagem da Folha: que células do cordão umbilical geram neurônios.
Muito pelo contrário, seus autores foram extremamente cautelosos, escreveram inclusive que a expressão dos genes associados à neurogênese (geração de neurônios) detectada nas células do cordão umbilical poderia ser uma "contaminação" da amostra por terminais de neurônios.
Segundo o próprio artigo, além desses 4 genes comuns aos neurônios (SYNPO2, NRP2, CDH2 e NPY), as células de cordão umbilical também expressam genes relacionados à angiogênese, à morfogênese, à adesão celular e secreção.
A chamada da matéria da Folha de São Paulo poderia ter sido "cordão umbilical gera vasos sangüíneos" ou ainda "cordão umbilical gera um monte de coisas". Certamente a opção por falar dos neurônios na chamada e no primeiro parágrafo atraiu muito mais leitores.
Até a tarde de hoje a reportagem da Folha havia repercutido em pelo menos 219 blogs e 981 páginas de notícias na internet. A partir de agora para a maioria esmagadora dos leitores cordão umbilical gera neurônio! Ninguém irá se preocupar em confirmar se o artigo citado traz de fato dados experimentais que corroborem essa afirmação.
Todos nós torcemos para que um dia se demonstre que células-tronco adultas derivadas do sangue, do cordão umbilical ou de qualquer outra parte do corpo além do cérebro sejam capazes de formar neurônios funcionais. Iria acelerar bastante os estudos clínicos para doenças como Parkinson, lesão medular ou esclerose lateral amiotrófica. Infelizmente não foi dessa vez.
Muito pelo contrário, seus autores foram extremamente cautelosos, escreveram inclusive que a expressão dos genes associados à neurogênese (geração de neurônios) detectada nas células do cordão umbilical poderia ser uma "contaminação" da amostra por terminais de neurônios.
Segundo o próprio artigo, além desses 4 genes comuns aos neurônios (SYNPO2, NRP2, CDH2 e NPY), as células de cordão umbilical também expressam genes relacionados à angiogênese, à morfogênese, à adesão celular e secreção.
A chamada da matéria da Folha de São Paulo poderia ter sido "cordão umbilical gera vasos sangüíneos" ou ainda "cordão umbilical gera um monte de coisas". Certamente a opção por falar dos neurônios na chamada e no primeiro parágrafo atraiu muito mais leitores.
Até a tarde de hoje a reportagem da Folha havia repercutido em pelo menos 219 blogs e 981 páginas de notícias na internet. A partir de agora para a maioria esmagadora dos leitores cordão umbilical gera neurônio! Ninguém irá se preocupar em confirmar se o artigo citado traz de fato dados experimentais que corroborem essa afirmação.
Todos nós torcemos para que um dia se demonstre que células-tronco adultas derivadas do sangue, do cordão umbilical ou de qualquer outra parte do corpo além do cérebro sejam capazes de formar neurônios funcionais. Iria acelerar bastante os estudos clínicos para doenças como Parkinson, lesão medular ou esclerose lateral amiotrófica. Infelizmente não foi dessa vez.
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