segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Cromossomos, ponteiras plásticas de cadarços e o relógio da vida


Elizabeth H. Blackburn, Carol W. Greider e Jack W. Szostak devem ter tido a segunda-feira mais feliz de suas vidas. Anteontem cada um deles recebeu um telefonema informando que ganharam o Prêmio Nobel de Medicina de 2009.

Nas décadas de 1970 e 1980 esses três cientistas americanos descobriram como os cromossomos evitam sua degradação enquanto se dividem. O segredo está nos telômeros, sequências repetitivas de DNA que protegem suas extremidades da mesma forma que ponteiras plásticas protegem as pontas de nossos cadarços.
A foto, tirada por Priscila Britto Campos em meu laboratório, ilustra cromossomos de uma célula-tronco coloridos em azul e seus telômeros marcados como pontos vermelhos. Os nobelistas foram os primeiros a identificá-los!

Tais estruturas conferem proteção contra fusões, erros de recombinação e danos no DNA.

Em 1961, Hayflick notou que células de mamíferos tinham uma taxa finita de proliferação mas não soube explicar como isso acontecia.
Graças à Blackburn, Greider e Szostak hoje sabe-se que tal fenômeno ocorre porque a cada ciclo de divisão celular os telômeros sofrem encurtamento em função do antiparalelismo das fitas de DNA.

Com isso, acabam funcionando como um relógio da vida, definindo o momento em que uma célula entra em senescência, ou em outras palavras, quando tem início o envelhecimento de nosso corpo.

Algumas células são capazes de corrigir o encurtamento de seus telômeros. Essa tarefa é realizada por uma enzima chamada telomerase.
A telomerase é capaz de adicionar sequências de DNA nas extremidades dos cromossomos prevenindo assim a perda progressiva dos telômeros e desacelerando o tic-tac do tal relógio.

A maioria das nossas células não produzem grandes quantidades de telomerase e por isso depois de 50 a 80 duplicações não conseguem mais se dividir.

A exceção fica por conta das células epiteliais, das hepáticas e infelizmente das tumorais, ricas em telomerase, o que pode explicar porque se dividem tantas vezes.

A alta atividade da telomerase pode indicar inclusive o início de um câncer. Há medicamentos sendo testados em seres humanos com o objetivo de inibir essa enzima e conseqüentemente o crescimento de tumores.

A próxima vez que amarrar os sapatos lembre-se que algo com a mesma função da ponteira plástica de seus cadarços define quantas vezes nossas células conseguem se dividir, para o bem e para o mal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Powered By Blogger