
Pouco antes da preguiça do Panamá, um outro caso um tanto menos chamativo veio da China:
“Uma habitante da cidade chinesa de Suining levou o susto de sua vida ao encontrar uma cobra na parede de seu quarto. Detalhe: a cobra era dotada de uma perna. Duan Qiongxiu, 66 anos, entregou o animal para cientistas, que se surpreenderam com o fato do animal ter aparentemente desenvolvido uma pata completa, com quatro dedos. ‘Eu acordei e ouvi um barulho estranho. Quando acendi a luz, vi o bicho rastejando na parede’, conta Duan. Ela pegou um sapato e matou o animal, mas guardou o corpo em um pote com álcool”.
[G1: Chinesa leva susto ao encontrar cobra com uma perna dentro de seu quarto]
Cobras com pernas, membros vestigiais, não são tão incomuns: descendentes de ancestrais com patas, assim como pessoas com rabos por vezes cobras apresentam tais apêndices. São, contudo, geralmente muito pouco desenvolvidos.

Algo não parecia certo, e Roberto Takata, do Gene Repórter, embasou a estranheza com comentários mais fundamentados:
“A perna destoa. Se fosse um caso de atavismo, esperaria que a perna tivesse uma orientação correta – mas ela parece apontar para o lado errado, além disso a posição não parece correta – a julgar por fósseis e o gancho sexual de jibóias, pernas atávicas deveriam surgir perto do ânus. O padrão da coloração, embora parecido, não bate muito bem. (Em sendo atavismo, talvez o mais normal fosse esperar duas pernas e não apenas uma, embora uma combinação com má-formação congênita pudesse explicar a unilateralidade.)”
Qual seria então a explicação para o estranho caso da cobra com perna? O mesmo Takata parece matar a charada:
“Eu chutaria que o pobre animal teve um rompimento lateral e a perna de sua última refeição ficou exposta. Ou melhor dizendo, o braço. Eu chutaria que é o braço de um sapo – sapos e anfíbios modernos com patas em geral possuem quatro dedos nos membros frontais e sem garras – talvez (especulando na especulação) um parente do sapo cururu (Bufo spp.). O posicionamento parece bater com uma presa engolida pela cabeça: como é de hábito das cobras. O corpo está mais expandido um pouco à frente e um pouco atrás de onde sai a perna/braço, sugerindo a presença de um objeto em seu interior: o restante da presa”.
Takata menciona como exemplo o caso da cobra que “explodiu” após engolir um jacaré nos Everglades, EUA:

Aí também, é um tanto complicado perceber aonde termina a cobra e começa o jacaré. Mesmo a perna do jacaré também acabou saindo, e é provável que tenha sido a perna, com suas unhas, que tenha rompido a cobra nos dois casos.
Como no caso da preguiça, a explicação parece óbvia em retrospecto, mas Takata merece aplausos por resolver este estranho caso. Eu só chutaria, por aqui, que talvez o caso chinês também envolva uma cobra engolindo um pequeno crocodilo, já que o perfil de inchaço parece mais longo do que o de um sapo.
Seja como for, um estranho caso com uma inusitada explicação, que pode ser ainda mais curiosa que uma cobra atávica.
[Gene Repórter, via Cyntia (obrigado!), Arquivos do Insólito, Mundo Gump, onde Lucas Tumtambém enxergou a luz]
Atualização 27/09/09:
Takata envia um gráfico com sua interpretação da fotografia (clique para ampliá-lo):
O número de dedos é uma indicação forte de que o Gene Repórter estava certo desde o início e a perna seria de um sapo!
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